UMA LUZ PARA A MINERAÇÃO
Depois de enfrentar um longo ciclo de problemas, o setor começa a receber
investimentos para diversificar sua produção. O lítio, matéria-prima de baterias, está
entre as maiores apostas
Nos últimos anos, a indústria brasileira da mineração produziu, com desenvoltura, más notícias
e prejuízos. O trágico rompimento da barragem da Samarco, na cidade mineira de Mariana, o vazamento
nas tubulações do mineroduto da Anglo American, em Santo Antônio da Grama (MG), e a contaminação de
rios causada pela negligência da Hydro Alunorte, em Bacarena, no Pará, foram apenas algumas das
polêmicas que atingiram uma das mais importantes atividades brasileiras. Entre 2011 e 2016, o faturamento
do setor, responsável atualmente por 16,7% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial, despencou de US$
53 bilhões para US$ 24 bilhões, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). No ano passado, puxado
pelo reaquecimento da economia mundial, as receitas reagiram para US$ 32 bilhões, e devem fechar este
ano próximo a US$ 34 bilhões, cifras ainda distantes dos tempos áureos. “Houve muita dificuldade no
desenvolvimento de projetos e muitos deles não mostram ter viabilidade econômica”, diz Cristiano
Monteiro, diretor do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra).
Existem, no entanto, algumas luzes no horizonte da mineração brasileira. Uma delas, comparável
por alguns especialistas como a nova corrida do ouro, é a expansão da produção de lítio, matéria-prima para
a indústria de componentes eletrônicos e baterias, como smartphones, tablets e carros elétricos. Somente
neste ano, pouco mais de R$ 1 bilhão serão destinado a projetos de instalação de fábricas de processamento
do metal em Minas Gerais. “Está ocorrendo uma corrida maluca pelo lítio no mercado mundial, o que tem
levado o preço às alturas e a um aumento do interesse de investidores nessa atividade mineral”, afirma
Edmilson da Costa, coordenador de geologia e mineração do Ibram. O valor, que passa de US$ 30 mil a
tonelada, subiu 216% em oito anos. “As reservas brasileiras, todas subterrâneas, têm mostrado boa
qualidade e com potencial gigantesco de aumento da produtividade. ”
Na liderança dessa corrida estão empresas como as brasileiras AMG Mineração, Companhia
Brasileira de Lítio (CBL) e Sigma, com capital aberto na bolsa de Toronto, no Canadá, além da espanhola
Emerita Resources. “Vamos investir R$ 300 milhões até o fim de 2019 para iniciar nossa atividade comercial
com força máxima no começo de 2020”, diz o presidente da Sigma, Itamar Resende. A empresa possui uma
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área de 18 mil hectares, onde foram encontradas 200 reservas de lítio. “Estamos animados com as
perspectivas porque a demanda por lítio é um caso irreversível diante de uma indústria que está caminhando
para a eletrificação dos automóveis”, afirma o executivo. Já a AMG Mineração está construindo no município
mineiro de Nazareno uma unidade de concentração de espodumênio e tântalo, minérios que contêm lítio
em sua composição. Segundo o presidente, Fabiano Costa, a meta é produzir 90 mil toneladas de
concentrado neste ano, dobrando o volume em 2020 com a construção de uma segunda unidade. “A
diversificação do nosso portfólio garantirá uma operação altamente eficiente sob a perspectiva de custo e
produtividade, o que contribuirá de forma determinante na sustentabilidade do nosso negócio aqui no
Brasil. ”
O potencial do lítio no Brasil cresce na medida em que avançam também as sondagens
geológicas. Um estudo recente da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), do Serviço
Geológico do Brasil, revelou novas reservas de lítio no Vale do Jequitinhonha, no Nordeste de Minas Gerais,
com alto potencial de exploração econômica. A pesquisa, que teve início em 2012, fez um mapeamento de
reservas do metal em solo brasileiro. Foram localizados 45 grandes depósitos de lítio associado a pegmatito,
um tipo de rocha muito comum em Minas Gerais. Os estudos também avaliaram lugares que já têm sido
explorados e verificaram que existe potencial para aumentar significativamente a produção nessas regiões.
Segundo o presidente da CPRM, Eduardo Jorge Ledsham, a descoberta de novos depósitos em Minas é
desafiadora. “Além dos salares, a pricipal fonte de lítio em todo o mundo, o pegmatito tem se mostrado
uma fonte importante de lítio de qualidade”, afirma. O metal também é base para utilização na indústria de
vidro, cerâmica e até medicamentos.
Com essas descobertas mais recentes, o País tem potencial para multiplicar por 20 vezes suas
reservas comprovadas. Hoje, o País tem 0,4% das reservas de lítio do mundo. A estimativa é que, em 2019,
já responda por 8%, tornando-se o quinto país no ranking de reservas mundiais. Hoje, o Brasil produz 1% do
mineral em uso no mundo, o que equivalente a 48 mil toneladas. Argentina, Austrália, Chile e Bolívia
respondem, juntos, por aproximadamente 70% das reservas conhecidas de lítio do planeta, estimadas em
mais de 13 milhões de toneladas, segundo dados da CPRM. O valor do metal, apelidado de “petróleo
branco”, tende a subir com a demanda. O valor de mercado total do lítio no mundo deve aumentar para
US$ 43 bilhões já em 2020, segundo a consultoria americana Market Research.
Fonte: Isto É Dinheiro
Autor: Hugo Cilo
Data: 13/07/2018