O Limite KT: Como uma fina camada de argila mudou para sempre nosso
entendimento sobre a história da Terra!
O limite KT, como é conhecido, trata-se de uma fina camada de argila
avermelhada que demarca a passagem no registro geológico do período
cretáceo para o terciário cerca de 65 milhões de anos atrás. Essa fina
camada espantosamente tem uma ocorrência mundial e está extremamente
enriquecida com irídio (cerca de 300 vezes a mais que o normal), o que
indica um evento rápido, de proporções mundiais e extremamente
poderoso: especificamente um meteoro de proporções colossais,
responsável pela extinção dos dinossauros e mais da metade da vida na
Terra!
Essa camada de argila recebe o nome de limite “KT” justamente por ser
a divisão entre o período Cretáceo, K (de Kreta em grego, que, assim
como a palavra Cretáceo, significa “giz”, visto que C já era usado
para o período Cambriano) e o período Terciário, T.
Os primeiros estudos realizados no limite KT foram feitos por um
geólogo chamado Walter Alvarez em conjunto com seu pai, Luis Alvarez e
dois pesquisadores da Universidade de Berkeley chamados Frank Asaro e
Hellen Michel, na década de 1970. Em conjunto eles analisaram
quimicamente amostras de argila de mesmo período retiradas de Espanha,
Itália, Dinamarca, Nova Zelândia, França e Antártida. Todas as
amostras apontavam uma concentração anômala de irídio depositado em um
período curtíssimo de tempo, o que indicava, em primeiro lugar, que
todas as amostras haviam sido formadas no mesmo evento e, em segundo
lugar, que este havia sido um evento abrupto e catastrófico. A partir
desses resultados os pesquisadores concluíram que a explicação mais
plausível para esse evento era que um enorme meteoro que haveria
atingido a Terra 65 milhões de anos atrás. Além disso, tendo em
consideração que não são mais encontrados dinossauros no registro
fóssil pós limite KT, os pesquisadores, em 1980, apresentaram pela
primeira vez, na Associação Americana Para o Progresso da Ciência, uma
hipótese oficial de que a extinção dos dinossauros foi resultado
direto do impacto de um asteroide com o nosso planeta. Apesar do
rebuliço que essa hipótese causou à época, hoje essa é a hipótese mais
aceita sobre a extinção dos dinossauros e os estudos no limite KT
foram um marco fundamental tanto para o entendimento da história da
Terra como um alerta para o quão devastador pode ser para a vida na
Terra se futuros impactos de grande porte vierem a ocorrer.
Na foto vemos Luis Alvarez e Walter Alvarez em um afloramento do
limite KT em Gubbio, Itália, onde ele foi originalmente descoberto.
Fonte: BRYSON, Bill. Breve História de Quase Tudo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005. p. 203-207.