MINERADORAS DE MÉDIO PORTE SÃO INCENTIVADAS A BUSCAR MERCADO DE CAPITAL
O setor mineral brasileiro quer incentivar mineradoras de médio porte a desenvolver seus projetos minerários por meio da captação de recursos financeiros no mercado de capitais, tanto no Brasil como em outros países, como Canadá e Austrália, locais onde o sistema de financiamento para o setor mineral está bem evoluído.
O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) declarou que busca uma parceria com o Ministério de Minas e Energia (MME) e com outras organizações para estimular essas empresas brasileiras a se inserir no mercado de capital internacional.
“Várias empresas médias operam no Brasil com tendência de expansão. O Ibram pretende ser o interlocutor desse segmento de empresas junto às bolsas de valores”, declarou o presidente do Conselho Diretor do Ibram, Wilson Brumer, durante o seminário online “Mineração: Financiamento e Acesso ao Mercado de Capitais”.
“Com mais mineradoras nas bolsas de valores, mais investimentos serão direcionados ao Brasil”, destaca. Brumer informou que nos últimos seis meses a mineração elevou a projeção de investimentos no Brasil. A previsão inicial era de US$ 32,5 bilhões. Agora, a expectativa é que o número chegue a quase US$ 40 bilhões para o período 2020-2024, segundo estudo elaborado pelo Instituto.
Brumer ressaltou também que é importante promover um trabalho de mudança de cultura e de comportamento dos empresários “que ainda tenham em mente a necessidade de manter o controle de 100% de suas empresas”, o que ele chamou de “comportamento patrimonialista”. Segundo ele, os empresários adeptos da cultura patrimonialista “realizam investimentos com base, geralmente, apenas em financiamento, com a obtenção
de recursos via empréstimos com juros, quando há oportunidade de abrir capital em bolsa de valores no Brasil e em outros países, que dispõem de mecanismos diversificados para esse propósito. É importante abrir espaço para ter parceiros nos projetos”, disse.
O diretor-presidente do Ibram, Flávio Penido, lembrou que o Instituto assinou acordo de cooperação com as bolsas de valores do Canadá (TSX e TSX Venture Exchange) para ampliar aportes financeiros de investidores daquele e de outros países, principalmente, para financiar projetos de pesquisa geológica no Brasil.
Penido ressaltou que 36 projetos brasileiros buscam US$ 121 milhões na bolsa de valores no Canadá. Ele considera importante estreitar relacionamento com outros países para abrir mais oportunidades de ofertas de capital. “Já estamos em contato também com a embaixada da Austrália para fazer algo semelhante com o mercado de capitais daquele país, um dos líderes em mineração internacional”, afirmou. O head na América do Sul da Toronto Stock Exchange, Guillaume Légaré, destacou que, somente as duas bolsas de Toronto, a TSX e a TSX Venture Exchange, contam com 3.200 empresas listadas.
O presidente da Associação Brasileira de Pesquisa Mineral (ABPM), Luis Mauricio Azevedo, disse acreditar que, a partir do momento em que as ações das mineradoras passam a gerar lucro aos acionistas, inclusive pessoas físicas, “até mesmo a imagem do setor passa a mudar para melhor porque esse público, mesmo distante geograficamente dos empreendimentos, passa a registrar benefícios diretos proporcionados na forma de lucratividade”. Ele também recomendou que o Brasil faça o mesmo que Canadá e Austrália no passado, ou seja, financiar empresas de pesquisa mineral para expandir o conhecimento geológico.
De acordo com o estrategista-chefe e Head do Research da XP Investimentos, Fernando Ferreira, as mineradoras brasileiras interessadas em atrair investidores precisam “dedicar atenção privilegiada às boas práticas de ESG”, com respeito ao meio ambiente, ao social e a uma governança sólida. “Esse é um dos filtros que os investidores utilizam para decidir onde aportar seu dinheiro”.
O mercado de capitais no Canadá considera também, segundo Légaré, da Toronto Stock Exchange, a “qualidade do ativo e os relatórios geológicos técnicos específicos para comprovar as reservas minerais. Além disso, conta pontos positivos o nível de experiência da equipe de governança e a capacidade de desenvolver projetos com eficiência”, relatou.
Especialista em finanças climáticas, ESG e finanças sustentáveis, Marco Antonio Fujihara lembrou que mineradoras interessadas em captar recursos em mercado de capitais precisam “gerar indicadores que representem os impactos de suas práticas e que sejam bem compreendidos pelos investidores e gestores de fundos de investimento”. Como exemplo, ele citou que o inventário de emissões, um dado quantitativo, pode ser transformado pelas empresas em um dado financeiro e inserido no balanço contábil como ativo ambiental. Isso, segundo ele, dá robustez ao balanço, na avaliação do mercado.
Flávio Penido, do Ibram, ressaltou que o Brasil precisa estabelecer mudanças em normas e leis que favoreçam um ambiente de maior segurança jurídica para atrair investimentos de longo prazo. Ele citou como exemplo o que chamou de “complexidade do licenciamento ambiental”. “O Ibram defende que o setor mineral possa seguir regras estabelecidas por um licenciamento ambiental específico, aderente às suas características de planejamento e operação, assim como acontece com outros setores. O modelo genérico impõe obstáculos à evolução ágil da aprovação de projetos e há casos em que a demora provoca impactos severos no fluxo de caixa dos investidores”, avalia.
O gerente nacional da Amarillo Gold, Arão Portugal, também ressaltou a importância da segurança jurídica e também de “mecanismos que convençam o setor financeiro brasileiro a aportar recursos nos projetos minerais no país”. Por falta de interesse das instituições financeiras do Brasil, ele afirma que a companhia teve que captar recursos no mercado financeiro do Canadá.
O Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral (SGM/MME), Alexandre Vidigal, afirmou que o governo federal está empenhado em proporcionar um ambiente seguro para os investidores, como “adotar políticas favoráveis à expansão sustentável do setor e por aspectos como o de regulação, de monitoramento e fiscalização das atividades”.
“A relação investidor-captador demanda o componente da confiança, da credibilidade para ser efetiva”, declarou. O secretário lembrou o lançamento na segunda-feira (28) do Programa Mineração e Desenvolvimento (PMD) que, segundo ele, vai proporcionar a construção de um modelo de “mineração arrojada e moderna” no Brasil.
Fonte: Notícias de Mineração Brasil/ADIMB