Pesquisadoras do Brasil desenvolvem técnica inédita e mais barata para extrair alumínio da bauxita do que a mineração, além de ser mais sustentável
Escrito por Sabrina Moreira Paes em Economia,Mineração
Novo processo promete ser mais sustentável, barato e rápido do que a mineração do alumínio | Foto: Instituto de Química da Unesp
Método inovador foi criado pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) e usa fungos e melaço de cana no processo de extração do alumínio da bauxita
A extração do alumínio a partir da bauxita é um processo de mineração que traz muitos impactos ambientais e é um método caro. Pensando em alternativas, pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Estadual de São Paulo desenvolveram um novo método para extrair o composto usando fungos e melaço de cana, menos agressivos que os produtos usados na mineração.
O método é inédito no mundo garantiu o registro de patente (quando a descoberta nunca foi feita por alguém no mundo). O processo que usa os fungos e o melaço de cana promete ser de custo muito inferior ao da mineração convencional e ainda otimizar a extração, além de ser sustentável. Confira mais sobre essa descoberta lendo a matéria até o final.
Saiba mais sobre os efeitos da extração do alumínio da bauxita para o meio ambiente com o vídeo abaixo; clique na imagem.
Extração convencional do alumínio a partir da bauxita na mineração é prejudicial ao meio ambiente e pouco sustentável | Reprodução — YouTube: Focado na Política
Resultado inédito garantiu a patente da descoberta para ser usada em outros lugares do mundo
Embora ainda não tenha resultados totalmente conclusivos, os pesquisadores conseguiram o registro de patente pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O procedimento foi testado apenas em laboratório, mas já trouxe resultados impressionantes, o que culminou no registro.
As pesquisadoras apontam que o procedimento usado será mais acessível e sustentável, evitando danos ao meio ambiente. Além disso, ele poderá ser usado para extrair o alumínio de outras fontes além da bauxita.
“Mesmo em pequena escala, conseguimos obter um grande resultado com essa abordagem. É um passo importante”. O processo feito pelas indústrias é extremamente agressivo. Ele demanda grandes quantidades de energia e insumos, o que eleva o preço do produto e gera resíduos altamente tóxicos, como a chamada ‘lama vermelha’, composta por diferentes agentes químicos”.
Denise Bevilaqua, professora e vice-diretora do Instituto de Química, uma das autoras do estudo (2022).
O processo desenvolvido pela UNESP usa procedimentos simples, em condições normais de pressão e temperatura que não requerem a adição de reagentes e ácidos fortes contaminantes e caros. Dessa forma, a extração do alumínio é mais natural e reduz a formação de resíduos que impactam o meio ambiente.
Estudo é o primeiro a propor o uso de ácidos dos fungos ao invés de os convencionais para extrair o alumínio da bauxita
A pesquisa desenvolvida aqui no Brasil é ainda mais brilhante porque ninguém no mundo havia pensado em usar os ácidos produzidos pelos fungos do melaço de cana para extrair o alumínio. Além disso, o melaço como fonte para os fungos é genial porque é um resíduo da indústria sucroalcoleira e serve muito bem como alimento para o cultivo dos fungos, sem precisar gastar com sacarose e glicose artificiais.
“Os fungos normalmente já produzem ácidos, mas com o melaço foi possível tornar esse processo mais barato para ser aplicado na recuperação do alumínio presente na bauxita. Podemos usar a capacidade da natureza para algo de interesse da sociedade e incentivar a economia circular”.
Sandra Regina Pombeiro Sponchiado, professora do IQ, uma das autoras do trabalho (2022)
As pesquisadoras da UNESP buscam agora um financiamento em larga escala para aplicar isso no setor da mineração
A próxima etapa no estudo é a busca de financiamento em larga escala para produção industrial. O investimento é necessário para aprimorar a técnica e buscar aplicação imediata no setor de mineração.
“A mineração é uma atividade que seguirá presente na sociedade, mas que pode e deve ter seus impactos reduzidos. O que temos que fazer é propor alternativas mais sustentáveis e menos agressivas para esse processo”.
Denise Bevilaqua, professora e vice-diretora do Instituto de Química, uma das autoras do estudo (2022).