Perfuração investiga como surgiu a Floresta Amazônica

Perfuração investiga como surgiu a Floresta Amazônica

Dois poços, um de 2 km e outro de 1,2 km, são escavados em pesquisa que busca saber como floresta se desenvolveu em 65 milhões de anos

O Estado de S. Paulo.

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MARCIO DOLZAN

‘Túnel do tempo’ Estudo tenta saber como o clima afetou a floresta no passado e como será seu impacto no futuro

Pesquisadores de 12 países iniciaram no dia 16 a perfuração de um poço no Acre que deverá chegar a 2 quilômetros de profundidade e servirá como uma espécie de “túnel do tempo” da Floresta Amazônica. Além dessa, uma segunda perfuração com 1,2 km de profundidade, será feita no Pará. A iniciativa pretende buscar informações que ajudem os cientistas a entender como se originou a Amazônia, como o clima afetou seu desenvolvimento ao longo dos últimos 65 milhões de anos e qual poderá ser seu impacto no futuro.

A pesquisa é financiada pelo International Continental Scientific Drilling Program (ICDP), um consórcio que tem sede na Alemanha e colaboração financeira e científica de 22 países, além da Unesco. O estudo sobre a Amazônia envolve cerca de 60 pesquisadores, metade deles vinculada a instituições brasileiras.

“Este projeto pretende descobrir a origem da Amazônia, a região com a maior biodiversidade do mundo e cujas florestas e rios são responsáveis pela maior parte dos recursos hídricos da América do Sul. Queremos entender quando e como foram formados o Rio Amazonas e a Floresta Amazônica”, afirma André Oliveira Sawakuchi, do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), um dos que estão à frente do projeto. “Entender a origem da Amazônia é importante para sabermos como surgem as espécies de animais e plantas. Isto também nos auxiliará a compreender como a mudança do clima afetará a Amazônia e vice-versa.”

PERFURAÇÃO.

Para ser feita a pesquisa, um equipamento semelhante ao utilizado para perfurar poços de petróleo está penetrando o solo para a retirada de camadas cilíndricas dele. Cada uma dessas camadas, que poderá ter até 6 metros de comprimento, será analisada em laboratório para a busca de evidências físicas, químicas e biológicas. Como os cientistas já sabem a era em que foi formada cada camada de solo, será possível saber como eram as condições de vida naquele período. Se atingir os 2 km almejados, os pesquisadores acreditam que o “túnel do tempo” trará evidências que chegam a 65 milhões de anos.

A iniciativa começou a ser gestada há dez anos, mas só agora foi colocada de fato em prática. “O custo é elevado, por ser um projeto que demanda perfurações profundas em locais de difícil acesso para sondas de grande porte. A proposta original abrange cinco perfurações. Porém, com a elevação dos custos dos serviços e equipamentos de sondagem após a pandemia e com o início da guerra na Ucrânia, os recursos que obtivemos com as agências de fomento serão suficientes para realizar somente duas perfurações”, afirma Sawakuchi. O custo estimado é de US$ 4 milhões (cerca de R$ 19,4 milhões).

O primeiro poço está sendo escavado no município de Rodrigues Alves, no Acre. O segundo, o de 1,2 km de profundidade, será feito na cidade de Bagre, no Pará. Cada uma das perfurações deverá durar três meses, com um intervalo de 60 dias entre elas para que se possa fazer a transferência dos equipamentos.

“Os locais das perfurações foram selecionados a partir de informações obtidas por perfurações para procura de petróleo realizadas pela Petrobras desde a década de 1960. Nós selecionamos locais onde os poços da Petrobras foram ‘secos’ (não encontraram petróleo ou gás natural), mas identificaram os sedimentos e rochas sedimentares que registram a história da Amazônia.”

MAIOR JÁ FEITA.

Batizada de Projeto de Perfuração Transamazônica, a escavação dos dois poços é a maior que se tem notícia. “Com profundidades menores há o projeto Grind (realizado em Brasil, China e Namíbia) e houve o projeto sobre a cratera de Colônia (em São Paulo). Esses dois projetos realizaram sondagens mais rasas, de dezenas a poucas centenas de metros”, compara André Sawakuchi.

A perfuração ocorre 24 horas, sem interrupção. Cerca de 20 pessoas atuam de forma simultânea, em turnos de até 12 horas. A pesquisa tem recursos da National Science Foundation (NSF), dos EUA; do Smithsonian Tropical Research Institute, do Panamá; e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). •

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