Carajás pode ser um polo mundial para a produção de minerais críticos?
Francisco Alves
AProvíncia Mineral de Carajás poderá se tornar um polo mundial de produção de minerais críticos para a transição energética, particularmente cobre e níquel? O CEO da Ero Copper, David Strang, empresa que está implantando um projeto de cobre na região, acha que sim, argumentando que Carajás é um dos maiores distritos mineiros do mundo e mais importante do que Sudbury no Canadá, Norilsk na Rússia ou Witwatersrand Basin na África do Sul, dos quais se fala muito. “Carajás é potencialmente o mais prolífico distrito em minério de ferro, cobre e níquel no mundo, embora ainda esteja subexplorado, principalmente porque a Vale sempre esteve lá”, diz ele.
Para o geólogo Breno Augusto dos Santos, que esteve à frente da descoberta de Carajás e que dedicou décadas de trabalho ao reconhecimento da região, há realmente um grande potencial para cobre, mencionando que Salobo, que está sendo lavrado pela Vale, é um depósito de classe mundial e que há pelo menos cinco outras jazidas de médio porte conhecidas, com reservas entre 200 e 400 milhões de toneladas, com teores ao redor de 0,8% Cu.
De acordo com o estudo Avaliação do Potencial Geoeconômico da Província Mineral de Carajás, elaborado pelo SGB- -CPRM, os recursos e reservas atualmente existentes para cobre na Província Mineral da Carajás somam 23 milhões t de metal contido. As reservas (provadas e prováveis) totalizam 2,55 bilhões de toneladas, com teores variando de 0,6% a 2,1% Cu. Os depósitos atualmente conhecidos são: Salobo (Vale), Sossego (Vale), Boa Esperança ou Tucumã (Ero Copper), Antas (Oz Minerals), Pedra Branca (Oz Minerals), 118 (Vale), Jaguar (Centaurus), Alemão, Pojuca, Cristalino, Paulo Afonso e Furnas (também da Vale). Em todos esses depósitos, o cobre está associado ao ouro, em teores variando de 0,30 a 0,86 gramas por tonelada (caso do Alemão). Ainda segundo o estudo do SGB- -CPRM, dos depósitos de cobre atualmente conhecidos em Carajás, quatro estão em produção, ou seja, se transformaram em minas. Este é o caso de Salobo, Sossego, Sequeirinho e Pedra Branca.
Salobo é a estrela
Salobo, onde existem reservas de 1,112 bilhão t de minério com teor de 0,62% Cu e 0,35 gr/t de ouro e recursos de 529,8 milhões t com teor de 0,46% Cu e 0,23 gr/t de ouro, é a maior mina de cobre do País atualmente, com uma escala de produção instalada de 200 mil t/ano de cobre contido em concentrado e mais de 200 mil onças de ouro por ano (a produção de ouro vem decaindo, tendo passado de 331 mil onças em 2020 para 215 mil onças em 2022). A mina está em produção desde 2012 e tem passado por sucessivos programas de expansão. A última, que se encontra em fase de ramp up, elevou a capacidade de processamento da usina para 36 milhões t/ano de minério.
Entre as primeiras descobertas e a entrada em operação de Salobo, decorreram 38 anos. A mineralização de cobre foi descoberta em 1974, na região do Igarapé Salobo, e a exploração detalhada foi iniciada em 1977. Como informa a Vale, “um estudo conceitual foi concluído em 1981, e estudos-piloto decorreram de 1985 a 1987, culminando na atribuição de uma concessão de lavra. Um estudo de pré-viabilidade foi concluído em 1988, o estudo de viabilidade inicial foi realizado em 1998, atualizações do estudo de viabilidade foram realizadas em 2001 e 2002 e um estudo final foi concluído em 2004. As operações de Salobo começaram com pre-stripping em 2009 e o primeiro concentrado foi produzido em 2012”. O projeto chegou a ser objeto de uma associação entre a então Companhia Vale do Rio Doce e a Anglo American, que depois foi desfeita e a Vale ficou como único controlador de Salobo.
Apesar de ter sido descoberta primeiramente, Salobo não foi a primeira mina de cobre a entrar em operação na Província Mineral de Carajás. O primeiro a produzir foi Sossego, um depósito bem menor, com reservas de 86,2 milhões t de minério com teor de 0,58% de cobre e 0,19 gr/t de ouro e recursos de 322,6 milhões t com teor de 0,80% de cobre e 0,19 gr/t de ouro, que tem capacidade instalada para produzir 100 mil t/ano de cobre contido em concentrado, contando com a capacidade de produção do depósito de Sequeirinho, cuja lavra é integrada à de Sossego. O projeto entrou em operação em 2004 e hoje são duas minas a céu aberto (Sossego e Sequeirinho) e uma planta que processa o minério das duas minas. Há vários depósitos satélites na região (Cristalino, 118, Bacaba e Mata II) que poderão ser lavrados no futuro, com o processamento do minério na planta de Sossego. Em 2022, Sossego processou 10,5 milhões de toneladas de minério de cobre, gerando 43,2 mil toneladas de cobre contido em concentrado e 30 mil onças de ouro.
Veja a matéria completa na edição 432 de Brasil Mineral