Aerolevantamentos geofísicos públicos no Brasil: estado da arte e cenários futuros
Por Luiz Gustavo Rodrigues Pinto e Valter Rodrigues Santos Sobrinho
Ageofísica é a ciência que estuda as propriedades físicas da Terra para investigar seu interior, desde as camadas mais superficiais, onde se localizam grande parte dos recursos minerais, às porções mais profundas de nosso planeta, que são majoritariamente conhecidas indiretamente através das informações geofísicas.
Na pesquisa mineral, são aplicados os métodos geofísicos desde o reconhecimento regional, por meio de aerolevantamentos, ao detalhamento dos depósitos, por levantamentos geofísicos terrestres. Os aerolevantamentos geofísicos destacam-se pelo recobrimento de grandes áreas em malhas regulares, em um curto espaço de tempo e em locais muitas das vezes de difícil acesso terrestre, com uma excelente relação custo-benefício.
Os dados geofísicos permitem a modelagem de feições geológicas, como corpos, estruturas e depósitos minerais, ocultas em profundidade. Especificamente, os levantamentos aerogeofísicos podem abranger grandes áreas e regiões de difícil acesso, sendo uma estratégia rápida e eficiente de investigação do subsolo, muito importante em um país continental como o Brasil. Os levantamentos aerogeofísicos do Serviço Geológico do Brasil – CPRM são voltados aos seguintes objetivos:
- Subsidiar o mapeamento geológico sistemático no Brasil e, como consequência, a definição de ambientes geológicos favoráveis à presença de depósitos e sistemas minerais;
- Fomentar os investimentos e reduzir riscos do setor mineral privado, uma vez que a aerogeofísica é uma ferramenta imprescindível na pesquisa de depósitos minerais;
- Viabilizar e acelerar a pesquisa geológica, especialmente em áreas de difícil acesso e com densa cobertura vegetal, a exemplo da região amazônica;
- Auxiliar nos estudos hidrogeológicos, a exemplo da locação de poços em terrenos cristalinos, do semiárido brasileiro;
- Outras aplicações podem ser citadas, como a utilização de dados de levantamentos aerogamaespectrométricos para a caracterização de tipos de solos mais favoráveis para cultivos especializados.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Geofísica (SBGf), entre os anos 1954 e 1968 a atividade de geofísica no país era conduzida quase que exclusivamente pela PETROBRAS na prospecção de petróleo. Ainda no início da década de 1950 são reportados os primeiros aerolevantamentos utilizando cintilometria na investigação de depósitos radioativos na região de Poços de Caldas/MG.
Entre as décadas de 1970 e 1980, uma série de levantamentos aerogeofísicos voltados para a prospecção mineral foi executada pelo DNPM, através da CPRM, como parte do Plano Mestre Decenal para Avaliação de Recursos Minerais do Brasil 1965 – 1974 e dos Planos Decenais que o seguiram, com destaque para aqueles realizados como parte de cooperações internacionais com o Canadá e a Alemanha, que cobriram grandes áreas do Brasil e trouxeram importantes contribuições para a compreensão do contexto geológico- -tectônico das áreas levantadas, bem como para avaliação de seu potencial mineral.
Na década de 1990 não houve grande investimento financeiro para a aquisição de levantamentos aerogeofísicos. Entretanto, os anos 2000 marcam a retomada dos levantamentos aerogeofísicos pelo governo brasileiro através da CPRM e de suas parcerias com governos estaduais. Esta fase é caracterizada por levantamentos aerogeofísicos de alta resolução, através dos métodos magnetométricos e gamaespectrométricos utilizando sistemas de aquisição de posicionamento integralmente digitais através de equipamentos de GPS (Global Position System). No ano de 1995, foi criada pela CPRM a base de dados de Projetos Aerogeofísicos do Brasil, denominada de Base AERO. Tal base reuniu as informações dos metadados dos levantamentos aerogeofísicos realizados no país desde o ano de 1992. Essa base classificou os aerolevantamentos em quatro categorias, de acordo com os executores e/ou clientes, apresentando informações técnicas sobre todas as fases dos principais levantamentos aerogeofísicos realizados no Brasil. As quatro categorias são:
- Série 1000 – projetos conduzidos pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e Serviço Geológico do Brasil-CPRM;
- Série 2000 – projetos conduzidos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e pela Empresa Nucleares Brasileiras S.A. (NUCLEBRAS);
- Série 3000 – projetos conduzidos pelos governos estaduais e empresas privadas;
- Série 4000 – projetos conduzidos pelo Conselho Nacional do Petróleo (CNP) e pelo Petróleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS).
Veja a matéria completa na edição 433 de Brasil Mineral