Burocracia
>Por Vanderlei Antônio de Araújo
> Precisando vender a minha parte num sitio que eu tinha de uma herança
> do meu pai, fui ao cartório e passei uma procuração para o meu irmão
> me representar na minha cidade natal. Lá, no cartório, o escriturário
> disse a ele que verificando a situação de cada um dos vendedores no
> Fisco, descobriu que havia uma pendência em meu nome na Receita
> Federal. Portanto, a continuação do negócio só seria possível depois
> que minha situação fosse resolvida.
>
> Não acreditei quando meu irmão telefonou me informando do problema. No
> dia seguinte, me dirigi a uma agência da Receita Federal, certo de que
> devia haver algum engano, pois sempre paguei meus impostos em dia. A
> primeira pessoa que me recebeu, pesquisou, e disse que não havia nada.
> Mas, por via das dúvidas, me enviou a um outro atendente mais
> graduado. Este, consultando seus arquivos encontrou uma dívida de
> noventa e nove centavos em meu nome, resultantes, segundo ela, de uma
> diferença de cálculo encontrada no imposto da minha penúltima
> declaração, cuja parcela única eu havia pago na ocasião da entrega.
> Fiquei indignado porque além da dívida ser uma mixaria, já completara
> dois anos e nenhuma cobrança me foi enviada.
>
> Entretanto ela me disse que não era com ela a solução do problema e me
> mandou a uma outra pessoa que iria cancelar a minha dívida pelo fato
> de ela ser menor que dez reais. A partir daí começou minha maratona em
> busca da solução. Esperançoso de ter minha situação, rapidamente,
> resolvida, me dirigi a pessoa indicada. Esta, apenas me mandou para
> outra pessoa.
>
> Depois de quase três horas, andando de um lado para outro, encontrei
> finalmente, a pessoa que iria resolver meu problema. Aproximei-me e
> falei com ela, explicando a situação. A mulher girou noventa graus na
> sua cadeira, encostou-se ao computador e digitou o meu CPF. Depois,
> olhou por alguns minutos o resultado da pesquisa e me informou que
> realmente havia uma dívida de noventa e nove centavos, mas que eu
> teria que pagar dez reais, já emitindo o boleto. Indaguei porque dez
> reais, se minha dívida era de noventa e nove centavos, e que a moça de
> outra sala me mandou ali para cancelar a dívida. Ela disse que não
> podia cancelar, pois não era permitido o cancelamento de dividas. E
> como o fisco não cobrava valores inferiores a dez reais eu teria que
> pagar os dez reais. Retruquei dizendo que se não cobravam valores
> menores a dez reais, porque então eu que tinha uma dívida de noventa e
> nove centavos teria que pagar dez reais. Ela não me respondeu. Ficou
> calada por um instante. Depois, me entregou o boleto e disse que para
> pagar os noventa e nove centavos eu teria que pagar os dez reais.
>
> Sem mais conversa, peguei o boleto e fui até o banco, paguei os dez
> reais e resolvi minha situação.