Chineses buscam minério de qualidade
Siderúrgicas chinesas e comerciantes estão correndo para assegurar contratos de longo prazo para minério de ferro de alta qualidade antes de cortes de produção no inverno, o que tem beneficiado a principal fornecedora do produto, a gigante brasileira Vale. A China, maior consumidora global de minério de ferro, utilizado na produção de aço, precisa do produto de maior qualidade, menos poluente, para seguir a luta contra a poluição nas cidades.
A corrida por contratos do produto está ganhando ritmo conforme o país busca estabelecer limites de produção em unidades do norte pelo segundo inverno seguido. Essa demanda evidencia como a prolongada guerra à poluição da China está mexendo com os mercados globais de minério de ferro. A cidade de Tangshan, maior produtora de aço, está buscando cortar até 70% da produção das usinas com base nas emissões de carbono das unidades.
O Hebei Jingye Group, uma usina de aço de médio porte em Hebei, está em busca de um contrato com a Vale para fornecimento de minério de ferro de alto teor em 2019, disse um representante da companhia. Ela já fechou em 2018 um contrato para 1,5 milhão de toneladas por finos de minério de ferro da Vale conhecidos como Brazilian Blend, ou BRBF, com 63% de ferro.
“Já nos arrependemos de não ter comprado mais BRBF. Mesmo que não utilizemos tudo, ainda podemos vendê-lo no mercado spot e fazer muito dinheiro, pois os preços subiram muito”, disse Jia Zhanhui, que compra matérias-primas para o grupo Jingye. A Vale disse que está ficando sem oferta imediata de alguns de seus produtos de maior teor devido à forte demanda da China. “As empresas chinesas estão buscando contratos de mais longo prazo devido à qualidade”, disse o diretor-executivo de ferrosos e carvão da Vale, Peter Poppinga.
“Nós já vendemos tudo de Carajás”, afirmou Poppinga, referindo-se a um dos projetos de minério de ferro de alta qualidade da companhia, no Pará, com cerca de 65% de ferro. “Vamos alocar Carajás de acordo com contratos de longo prazo e com oportunidades no mercado spot”, adicionou.
Gigantes
A Vale superou a fabricante de bebidas Ambev e se tornou a empresa mais valiosa da bolsa de valores paulista B3, na última semana. A companhia, que faz parte do grupo das quatro maiores mineradoras globais, deve ser a que mais vai se beneficiar da crescente mudança da China rumo a matérias-primas menos poluentes, devido a seus produtos de maior teor.
A mineradora disse na última semana que está buscando expandir seu emblemático projeto de minério de ferro S11D, no Pará, para atender à demanda chinesa. ”Se você tem um contrato de longo prazo com a Vale em mãos agora, é fácil para você vender no mercado com US$ 5,5 extras por tonelada além dos preços acertados no contrato”, disse um comerciante do Zheshang Development Group, sob anonimato. O preço do minério de ferro com teor de 65% com origem no Brasil subiu 20% desde março, para US$ 96,80 a tonelada na quinta-feira.
O prêmio sobre os finos de minério de ferro com teor de 62% atingiu um recorde de US$ 29 neste mês.
Fonte: Reuters