DANO COLATERAL

DANO COLATERAL

Escrevo este texto no início de junho, em um momento sensível para o setor de mineração no Brasil. É absolutamente compreensível que depois das tragédias de Mariana e de Brumadinho, ambas provocadas pelo rompimento de barragens de rejeitos, a mineração brasileira tenha se tornado a ‘Geni’ da famosa canção de Chico Buarque, espécie de praga a ser execrada e banida para sempre da vida nacional.

Boa parte dos brasileiros enxerga hoje, de forma equivocada, a mineração como uma atividade irresponsável, predatória, dispensável. Ecoando esse sentimento, existem atualmente no Parlamento

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Nacional dezenas (sim, dezenas) de Projetos de Lei (PLs) tratando de mineração. Em comum, numa mistura de pressa em dar uma resposta à sociedade e desconhecimento da matéria, conferem o mesmo tratamento a coisas distintas e, caso aprovados, podem pôr a perder uma atividade fundamental para o desenvolvimento do País.

É ponto pacífico que algo precisa ser feito para garantir uma gestão segura das barragens de rejeitos. A fim de atender a essa demanda, alguns dos PLs apresentados no Congresso procuram dar meios ao poder público para realizar de forma eficaz esse controle, que me parece a maior prioridade no momento. Por outro lado, boa parte dos projetos traz propostas que em nada melhoram as questões de segurança e, caso venham a ser transformados em lei, farão subir às nuvens os custos das operações, inviabilizando-as.

Cito dois exemplos: a ideia de se instituir um seguro contra o rompimento de barragens e a volta da tributação sobre o mineral exportado (abolindo a conhecida Lei Kandir). Tratam-se de medidas despropositadas e arrecadatórias. O que devemos discutir e estabelecer são padrões de segurança, responsabilidades e fiscalização eficiente, para que incidentes com barragens não voltem a acontecer.

Acima de tudo, é preciso esclarecer que não existe “a mineração”, mas “minerações”. Cada uma tem as suas características, necessidades e impactos, que precisam ser colocados na balança na hora em que se pretende aperfeiçoar a legislação do setor. A mineração da bauxita, por exemplo, tem especificidades distintas das demais cadeias minerais metálicas. A maior parte da sua produção, 75%, é industrializada aqui mesmo, gerando empregos e tributos ao País. Seus padrões de sustentabilidade estão em linha com o que há de mais avançado no mundo. Suas empresas são referência em reabilitação de áreas mineradas e em boas práticas de sustentabilidade. Ou seja, a mineração da bauxita no Brasil é social e ambientalmente responsável.

Mesmo assim, se encontra sob intensa pressão, como o resto de toda a cadeia produtiva do alumínio. A precária infraestrutura do País, os altos custos logísticos, a insegurança jurídica provocada pelo cipoal regulatório, o custo proibitivo da energia, entre outros fatores, vêm minando a competitividade da indústria nacional. O Brasil já foi exportador de alumínio e dos seus produtos, mas desde 2014 se tornou um importador líquido. Saímos de uma produção de 1.7 milhões de toneladas/ano de alumínio primário para menos de 700 mil toneladas/ano registradas em 2018.

Esse mesmo fenômeno pode ser repetir com a bauxita. Temos a terceira maior reserva mundial, mas, diferentemente do que acontece com minério de ferro, o mundo (inclusive a China) tem outras alternativas de igual ou melhor qualidade do que a bauxita brasileira. Os maiores investimentos na atividade se concentram em países como Austrália, Guiné e em nações do Sudeste Asiático. No Brasil, os custos relacionados à cadeia da bauxita são maiores do que os dos países concorrentes.

Uma eventual elevação tributária ou medidas ainda mais restritivas à mineração indistintamente podem solapar a estrutura de custos das nossas lavras, levando à paralisação da sua produção. A mineração de bauxita terá, então, se transformado no dano colateral de uma guerra em que todos perdem. É isso mesmo o que nós queremos para o País?

Milton Rego é Engenheiro mecânico, economista e bacharel em filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Especialista em Gestão pela Fundação Dom Cabral, desde 2014 é o presidente- executivo da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL)

 Fonte: Revista Mineração e Sustentabilidade/ADIMB

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