Enquanto Brasil estuda, startup já transforma basalto em produto de alto valor nos EUA
País responde por 20% das publicações científicas sobre reminelizadores, mas a norteamericana Lithos já fechou contrato milionário para aplicar o produto em fazendas e conquistou até a dona do Google. O basalto é uma rocha vulcânica, a mais abundante do mundo. Nela, são encontrados diversos nutrientes muito bem vindos para quem vive da agricultura, como magnésio, fósforo e cálcio. O Brasil não tem vulcões ativos. Há indícios de atividades vulcânicas há 200 milhões de anos, nas terras onde hoje ficam as regiões Sul e Sudeste, que inclusive resultaram na chamada terra roxa, muito conhecida por sua alta qualidade. Mesmo com essa “benção” da ausência de vulcões, o Brasil ainda tem rochas vulcânicas. E elas são utilizadas, especialmente na agricultura, em um processo chamado de rochagem. Mas apesar de ser o país que mais estuda a aplicação de basalto como fertilizantes, uma startup dos Estados Unidos saiu na frente quando se trata da exploração comercial do material vulcânico e conquistou investimentos de grandes empresas do setor de tecnologia. A sacada da Lithos foi associar às características favoráveis nos cultivos um outro ponto positivo das rochas vulcânicas: a capacidade de sequestrar e reter carbono no solo. Com esse apelo, no ano passado, a Lithos fechou um contrato de US$ 57 milhões com gigantes tecnológicas como Alphabet, dona do Google, a plataforma de pagamento Stripe e a empresa de comércio eletrônico Shopfy para retirar cerca de 154 mil toneladas de CO2 da atmosfera, segundo informações do portal Fast Company. Para fazer isso, a empresa promove o uso de fertilizantes à base de basalto. Mary Yap, co-fundadora e CEO da Lithos, afirma que não é necessária uma estrutura complexa para se aplicar pó de rochas vulcânicas nas fazendas. “A infraestrutura já existe. Não precisamos de qualquer inovação tecnológica ou novos mecanismos para disseminar o uso deste tipo de material”, diz Yap. A Lithos quer aproveitar a urgência trazida pelas mudanças climáticas e pelas exigências de redução da emissão de carbono, especialmente nos Estados Unidos. Por isso, a startup foi procurada pelas três big techs. Neste caso, elas são representadas pela Frontier, uma associação de empresas que investe em startups voltadas para a captura de CO2 da atmosfera. Enquanto Brasil estuda, startup já transforma basalto em produto de alto valor nos EUA. Liderada por Nan Ransohoff, que é diretora de Efeitos Climáticos da Stripe, a Frontier tem construído um amplo portfólio de soluções nesse sentido. Mas para ela, a remineralização do solo é um caminho mais rápido e barato. “Além disso, pode ser feito em um tempo relativamente curto”, completa. No Brasil, é possível encontrar pó de basalto para ser aplicado como fertilizante até na plataforma Mercado Livre, em pequenas quantidades. Mas não há uma produção em grande escala. Segundo o pesquisador Éder Martins, da Embrapa Cerrados, a Scopus, base de dados internacional sobre estudos científicos, localizou 518 publicações sobre remineralizadores desde 1983. E o Brasil responde por 20% deste total. Ele aponta que houve um aumento do interesse sobre o tema depois do Congresso Brasileiro de Rochagem, realizado em 2009, e depois da regulamentação do remineralizadores e fertilizantes silicatados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, em 2016. Minas Gerais tem uma grande concentração de basalto. O prefeito de Uberlândia, Odelmo Leão, afirma que só em sua cidade, são 16 mil hectares de basalto a serem explorados. Martins afirma que quanto mais alterações provocadas pelo homem aquela área de solo sofreu, maior o efeito do uso do basalto para recuperar os nutrientes minerais. “Quanto mais arenoso for o solo, maior é a resposta do processo de remineralização”. Uma vantagem do uso de rochas vulcânicas nas terras agrícolas é a capacidade que elas têm de permanecer ativas. Insumos como cloretos, carbonatos, sulfatos, fosfatos e boratos são completamente dissolvidos no solo, enquanto as rochas usadas para remineralizar a terra têm dissolução parcial. Em estudos práticos feitos em lavouras de milho, o uso das rochas vulcânicas resultou em maior volume de fósforo disponível, com aumento da produtividade. A maior captura de carbono também é um efeito indireto do uso destes materiais. Martins calculou que para cada tonelada de rochas basálticas aplicadas no solo, podem ser sequestrados até 300 quilos de CO2 equivalente.
Fonte: AGFeed