PF desmonta esquema de contrabando de ouro para EUA e Europa com bloqueio de R$5,7 bi
© Reuters. Garimpeiro segura pedras de ouro, segundo ele, ao deixar terra indígena Yanomami em Roraima 07/02/2023 REUTERS/Amanda Perobelli
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – A Polícia Federal cumpre nesta quarta-feira dois mandados de prisão e 16 de busca e apreensão em operação para desarticular um esquema de mineração ilegal e contrabando de ouro para Europa e Estados Unidos, com ordem judicial para o sequestro de bens no valor total de mais de 5,7 bilhões de reais, informou a PF.
Outras duas operações também deflagradas nesta quarta pela corporação envolvem o contrabando de ouro vindo da Venezuela e por um grupo que operava em Tocantins para fazer lavagem de dinheiro e de ouro extraído ilegalmente, acrescentou a polícia em comunicados separados.
Na operação Emboabas, no Amazonas, um dos presos, de acordo com uma fonte da PF, é o brasileiro Brubeyk Nascimento. Já o milionário austríaco naturalizado brasileiro Werner Rydl, acusado de fornecer o ouro para contrabando, foi alvo de busca e apreensão.
Segundo a fonte, a apreensão deferida pela Justiça com montante total de mais de 5,7 bilhões de reais foi em barras de ouro guardadas por Rydl.
A Reuters tentou contato com Nascimento através do email e do telefone de sua empresa, mas não obteve retorno. Também não foi possível entrar em contato com Rydl de imediato.
A origem da operação, de acordo com nota da PF, foi a apreensão, em janeiro de 2020, de 35 quilos de ouro no aeroporto de Manaus. Dois norte-americanos, Frank Giannuzzi e Steven Bellino, além de Nascimento, tentavam embarcar para Nova York com o ouro em uma mala.
De acordo com a PF, os norte-americanos são sócios em uma empresa sediada em NY, a Doromet Inc, que iria negociar o metal. À época, os três alegaram que o ouro seria fruto de jóias derretidas, e apresentaram documentos falsos que comprovariam a origem.
No entanto, a perícia feita pela PF na composição do material mostrou que a origem real do ouro era garimpo ilegal, na região do Tapajós, no Pará.
“A investigação revelou que a organização criminosa adquire ouro de terras indígenas e leitos de rios com uso de dragas e, por meio de fraude, declara que o ouro foi extraído em permissões de lavra garimpeira (PLG) regularmente constituídas”, diz a nota da PF.
“Também foi identificado que o alvo principal realiza o esquentamento do ouro através de um austríaco que se naturalizou brasileiro e afirma ter mais de mais 20 bilhões de reais em barras de ouro em um suposto país independente criado pelo próprio investigado”, continua o texto da PF, referindo-se a Nascimento e a Rydl, criador do país fictício “Seagarland”.
O site seagar.info mostra “Seagarland” ao norte do Rio Grande do Norte e afirma se tratar de um “território no Oceano Atlântico, mas na plataforma continental brasileira”. A mesma página menciona o “Seagar Gold Bank”, que afirma estar em uma jurisdição que permite o armazenamento de ouro físico “livre de impostos”.
Segundo nota também publicada no site, Rydl fugiu da Áustria na década de 1990 acusado de crimes financeiros. Por pedido do governo austríaco, ficou quatro anos preso no Brasil, foi deportado, mas foi liberado pela prescrição do crime e voltou para o Brasil em 2009. Em 2015, foi preso por tentar embarcar ilegalmente em Cuiabá com uma barra de ouro.
Já Nascimento, engenheiro de Goiânia, é dono da empresa Bamc Laboratório de Análises de Solos e Minérios Ltda, que faria o comércio atacadista de produtos de extração mineral, de acordo com dados do registro de CNPJ da empresa, localizada em Anápolis (GO).
Nascimento teria feito sociedade com a Doromet Inc, empresa dos norte-americanos, para exportar o ouro para Europa via Estados Unidos. A Reuters tentou fazer contato com a Doromet Inc em seu telefone em Nova York, mas não houve resposta.
Outras ações
Já na operação Eldorado, a PF cumpriu dois mandados de prisão preventiva e 40 de busca e apreensão nos Estados de Roraima, Amazonas, Goiás e Distrito Federal em um esquema de contrabando de ouro venezuelano que entraria clandestinamente no Brasil como pagamento pela exportação de alimentos por mercados de Roraima e do Amazonas.
Segundo a PF, o ouro entraria no país escondido em caminhões, era vendido a outros participantes do esquema, que repassariam a empresas especializadas na exploração e venda de ouro. Essas então fariam o pagamento às empresas de alimentos dos dois Estados.
“Segundo o inquérito, os principais investigados desse esquema também teriam envolvimento com a exploração clandestina do minério em Terras Indígenas Yanomami, e em garimpos espalhados em outros Estados”, diz a nota da PF. “Além dos mandados de prisão e buscas, a Justiça também determinou a indisponibilidade de ativos financeiros, veículos e aeronaves dos investigados.”
Uma terceira operação policial, a Lupi, desarticulou uma quadrilha que atuava no Tocantins esquentando ouro com documentos ilegais e vendendo ouro extraído de garimpos ilegais, especialmente de terras indígenas e unidades de conservação ambiental.
Neste caso, a PF cumpriu um mandado de prisão preventiva e cinco de busca e apreensão.
“Durante o inquérito policial, a Polícia Federal identificou a possível existência de grupo criminoso, cujo modo de agir passa pelas seguintes atividades ilegais: extração do minério em áreas proibidas, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e subsequentes transporte, comercialização e exportação do ouro ilegal”, diz a nota.