QUE FUTURO TEM A MINERAÇÃO?
Muita gente está se perguntando qual será o futuro da indústria mineral brasileira após o trágico
acidente ocorrido como rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), que provocou a morte ou
desaparecimento de mais de 330 pessoas, além de causar sérios danos ambientais ao longo da bacia do rio
Paraopeba.
Antes do acidente, que ocorreu no dia 25 de janeiro, havia um clima de otimismo moderado no setor
mineral, motivado pela recuperação dos preços das commodities minerais no mercado internacional, pelas
mudanças na legislação mineral e pelo início de um novo governo que prega o liberalismo econômico.
Nesse cenário, várias empresas retomaram projetos que estavam congelados e anunciaram
investimentos, seja em novos empreendimentos ou em expansão da capacidade. Em levantamento feito por
Brasil Mineral, computamos um total de investimentos de US$ 22.7 bilhões, a serem aplicados ao longo dos
próximos quatro anos. E um dado importante é que não se trata apenas de empreendimentos em minério
de ferro e ouro, substâncias minerais que historicamente têm liderado a produção mineral brasileira, mas
também em outros minerais como cobre, zinco, fertilizantes, terras raras, nióbio, níquel, vanádio (minério
do qual o Brasil tem a única mina na América), lítio e outros.
Isso mostra que a mineração brasileira está diversificando a sua cesta mineral e reduzindo seu grau
de dependência da Vale, embora esta ainda permaneça como a maior mineradora do Brasil, com mais da
metade da produção, em valor, o que se explica pelo grande peso que o minério de ferro – do qual a Vale é
o maior produtor brasileiro e mundial — ainda tem no valor da produção mineral brasileira. Isto é importante,
porque os três últimos acidentes com vítimas no Brasil com barragens de rejeito ocorreram em operações
de minério de ferro: a barragem 1 da Herculano, em Itabirito, a do Fundão, em Mariana, e a de Córrego do
Feijão, em Brumadinho. Nas duas últimas a Vale é proprietária ou co-proprietária das operações.
O acidente de Brumadinho caiu como um balde de água fria sobre a cabeça daqueles que atuam na
mineração brasileira que, como já dissemos, estavam começando a se recuperar da crise causada pela baixa
no ciclo das commodities minerais que teve seu auge em 2015 e que no caso do Brasil foi agravada pelo
acidente de Mariana. Com o novo acidente, a imagem da mineração perante a sociedade ficou ainda mais
prejudicada. Isto significará que as exigências por parte do poder público e da sociedade para aprovação de
projetos de mineração vão aumentar. Aliás, já aumentaram, como mostram as últimas exigências da ANM
para as mineradoras com barragens a montante ou com dano potencial alto. Como resultado, os estudos de
viabilidade dos empreendimentos terão que priorizar os aspectos ambientais e sociais em relação aos
aspectos econômicos e métodos de processamento, pelo menos no caso do minério de ferro, terão que
mudar. Se assim não o fizerem, as empresas podem inviabilizar seus projetos ou perder o direito de minerar.
A imagem da mineração, que já estava bastante deteriorada desde o acidente de Mariana, agora
chegou ao ápice do negativismo, ao ponto de ter gente pedindo o fim da atividade, como se isso fosse
possível e como se a humanidade pudesse prescindir dos bens minerais para viver.
O problema é que, hoje, para a maioria da população mineração é sinônimo de Vale e de desastres
com barragens de rejeito. Pouca gente sabe que por esse Brasil afora existem milhares de operações de
mineração, de todos os portes, e que a maioria delas trabalha de forma segura do ponto de vista humano e
ambiental, produzindo bens minerais que são essenciais à vida de todos nós. O problema é que esta
mineração não sabe se mostrar para a sociedade e acaba pagando por pecados que não cometeu. Isto
representa outro grande desafio para as mineradoras, pois mais do que nunca já não basta fazer bem. É
preciso dizer o que faz e como faz. Sob pena de não poder mais fazer.
fonte: Brasil Mineral/ADIMB