HAROLDO DE CAMPOS (1929-2003)
Nasceu em São Paulo em 1929. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo em 1952, e no mesmo ano fundou, com o irmão Augusto de Campos e Décio Pignatari, o Grupo Noigandres de poesia concretista. Trabalhou como tradutor, crítico e teórico literário e foi professor no curso de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Literatura da PUC-SP. Em 1992, recebeu o Prêmio Jabuti de Personalidade Literária do Ano e, em 1999, o Jabuti de poesia, com o livro Crisantempo: No Espaço Curvo Nasce Um.
De: Denise Milan / Haroldo de Campos
metapoemas / metapoems
a escultura dá voz à pedra


uma voz que brilha e tem forma
uma voz que tem volume
voztactil
a pulsão do cristal quer
a vocação do cristal quer a forma
o cristal quer cristalografar-se
gramática do cristal:
a língua que falta ao minério
é o cristal
o cristal é o poeta do minério
descarna os corpos sólidos
e chega ao ectoplasma
do sol
o cristal aclara
o sol ensolara
a escultura transmuda a pedra
a pedra muda, fala
escultura: metáfora da tradução
= na calota urbana, acesso ao mundo subterrâneo