Água Boa de Beber de Nascente em Goiás!!
Manfredo Winge
Este episódio passou-se em um TF (trabalho final) do curso de geologia da Universidade de Brasília, envolvendo o meu dileto colega Prof. José Caruso Moresco Danni em 1980 no Projeto Goianésia, no estado de Goiás, e uma equipe de alunos dos quais não me recordo os nomes.
Os TF’s ou TG’s (trabalhos de graduação) no Instituto de Geociências da UnB correspondem a uma disciplina de fim de curso. Um verdadeiro treinamento profissional da geologia ss como deve ser para preparar um geólogo polivalente. São seguidas as seguintes etapas básicas: preparação (levantamento bibliográfico e fotointerpretação da área), mapeamento geológico (cerca de um mês intensivo de campo), trabalhos de laboratório (petrografia, geoquímica, revisão de fotointerpretação e da cartografia geológica), volta ao campo para revisão de pontos polêmicos e finalização dos estudos com relatório final seguido de defesa oral do trabalho.
A área do projeto de pesquisa, didaticamente selecionada, é dividida em sub-areas que ficam sob a responsabilidade de equipes de dois ou, excepcionalmente, três alunos cada sub-área. Os trabalhos em todas as fases são orientados por uma equipe de professores. Na etapa de campo, cada professor orientador acompanha lado a lado os alunos de cada equipe em um sistema de rodízio. A cada dois ou três dias, a equipe de alunos fica sem acompanhamento, tendo que se virar sozinha e por em prática os conhecimentos adquiridos ao longo do curso.
Goiás é um estado muito bonito e espetacular para se fazer geologia: clima ameno em geral, geologia interessantíssima, paisagens lindas, cursos de água normalmente cristalinas e afloramentos em quantidade.
Uma das orientações nos TF’s do IG/UnB é de que se deve fazer geologia privilegiando os perfis de caminhamento ao longo dos riachos onde se tem as melhores exposições de rochas frescas para estudo e coleta.
Pois ia assim, em um dia de julho de 1985, o professor Danni acompanhando uma das equipe de alunos córrego acima, estudando meticulosamente os afloramentos e orientando no estudo e na forma de descrição e anotações em caderneta de campo. A água de beber já acabara há tempos.. os cantis ficaram vazios pois o dia era quente e a caminhada para chegar ao perfil programado fora pesada. A água do riacho, limpa e cristalina, era um apelo. O professor não teve dúvidas: fez uma apologia da qualidade da água, informando que ali não existia cultivo com agrotóxicos e que, além disso, o fato de estarem, praticamente, nas cabeceiras do riacho e, portanto, junto das suas nascentes indicava tratar-se de água pura e mineral.
Lição de professor não deve ser contestada sem se ter um forte contra-argumento… Dito e feito: o argumento do professor foi definitivo. Todo o mundo esbaldou-se, bebendo a rica e pura água diretamente no riacho.
Saciada a sede, era hora de trabalhar e continuaram a subir a drenagem cobrindo uns duzentos metros onde, após uma curva do córrego, sentiram uma forte catinga e encontraram, afundada em pequena poça do riacho, a carcaça de uma vaca apodrecendo com o bucho cheio de vermes.